quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Dialogo entre duas mulheres, uma colagem a partir de Caio Fernando de Abreu

Clara: - ...ou me quer e vem, ou não me quer e não vem. Mas que me diga logo pra que eu possa desocupar o coração. Avisei que não dou mais nenhum sinal de vida. E não darei. Não é mais possível. Não vou me alimentar de ilusões. Prefiro reconhecer com o máximo de tranqüilidade possível que estou só do que ficar a mercê de visitas adiadas, encontros transferidos... Eu ia sentir uma baita falta dele. Mas eu disse que não, eu disse depressa que não... Anyway, que aconteça, que deixe marcas boas ou más, lembranças, tristes ou alegres, n'importe quoi. Que deixe material para o baú da memória, penso sempre assim, até nas maiores saias justas.

Anna: - Tomara que a gente não desista de ser quem é por nada nem ninguém deste mundo.

Clara: - Mas é preciso passar por uma porção de besteiras até chegar ao que interessa.

Anna: - Quando alguém, no plano real, toma forma, a gente imediatamente projeta toda aquela emoção presa na garganta do sonho. E fatalmente se fode.

Clara: - Amanhã, depois, acontece de novo, não fecho nada, não fechamos nada, continuamos vivos e atrás da felicidade, a próxima vez vai ser ainda quem sabe mais celestial que desta, mais infernal também, pode ser, deixa pintar. Se tiver aprendido lições (amor é pedagógico?), até aproveito e não faço tanta besteira. Mas acho que amor não é cursinho pré-vestibular. Ninguém encontra seu nome no listão dos aprovados. A gente só fica assim. Parado olhando a medida do Bonfim no pulso esquerdo, lado do coração e pensando, pois é, vejam só, não me valeu.

Anna: - Quem chora menos vive menos.

Autor: - Por alguns momentos, apenas alguns momentos, é como se houvesse assim uma espécie de esperança, de possibilidade de esperança...


Zarpando dessa madrugada!!!
Fui!